terça-feira, 13 de outubro de 2009

FRIDAY NIGHT (ou a calada noite preta)

Achegamos a noite, quiçá umas 22, 23 horas...

Deserta estava a urbe. Sombria, frígida, desinteressante, exceto pelo sempre exuberante panorama da ponte e pelo “bucolismo sentimental” do cais do porto, igualmente submerso no breu da noite.

Do mesmo modo se realçava na noite negra uma graúda meia lua inteira, minguante, abrolhando no céu em dimensão avantajada... A lua brota em tamanho avantajado por que, da nossa retina até ela, ao surgir no horizonte, se sobrepõe muito mais extensão de atmosfera, o que gera uma agradável impressão de amplificação do volume, somando ficticiamente ao que realmente sucede. Bobagem técnica sem utilidade prática!

Após as visitas parentais de praxe, esquadrinhamos a cidade na mira de algum recinto para comer e beber, e talvez dançar um pouco...

O breu da noite escura como que absorvera a movimentação noturna, sugara as pessoas, os bares, os clubes... Tudo estava laconicamente calado.

Prá onde ir?

Já abancava aquela resignação de “ter que ir dormir cedo” numa sexta feira, sem compromissos no outro dia, quando encontramos uma casa noturna aberta...

Seria então a solução de nossos momentâneos problemas!

Mas nada poderia ser tão simples assim...

-Cartões de crédito? -Não aceitamos nenhum...

-Cartões de débito? -Também não...

-Terminal para saque eletrônico naquele horário? -Não há. Estão fechados e somente funcionam até as 22 horas...

Com uma única folha no maldito talão de cheques, além de 12 contos de réis ainda restantes no bolso, entramos no bar.

Composição muito boa, palco “elevado”, som de boa qualidade – repertório e sonoridade – cerveja “estupidamente gelada”... Bons presságios para uma noite de sexta...

Vamos comprar uma cerveja então...

-Cartões? –Não, não...

-Nenhum, infelizmente!

-Mas e aquela máquina ali? –É do restaurante que funciona aqui durante o dia!

-Aqui trabalhamos mediante a compra de “tickets”, cada compra tem que ser paga no ato...

Retruco que só tinha uma folha de cheques, que os terminais estavam todos fechados naquela hora, e que não aceitavam nenhum cartão... Nem crédito, nem débito... Nada!

Aludo então que anotassem o consumo, e que ao encerrar a noite, preencheria o cheque maldito com a importância total consumida... Algo lógico, prático, que resolveria o problema de todos...

“Cara” torcida e retorcida... Alguma (muita) hesitação...

Proposta aceita!!!!

Finalmente!

Poderíamos calma e tranquilamente “curtir” um pouco...

E verdadeiramente “curtimos” um pouco... Algumas pessoas há muito não vistas, benquistas e que alegram a alma, outras malquistas e que desgostam a alma, mas unanimidade é algo improvável...

Som de qualidade, boas músicas, repertório variado, rock, pop, reggae...

Creedence Clearwater Revival tocando na vitrola... Uma verdadeira surpresa para os ouvidos... Aqui, neste lugar provinciano, um tanto retrógrado e “careta”, conservador (ainda que novos ventos soprem, mais parece delicada brisa litorânea), ouvir Creedence por estas bandas, em um bar/boate/casa noturna é “de cair os butiá do bolso”.

Mas como acontece nas histórias, quando a “temperatura” estava subindo, quando a festa realmente estava fazendo folia em nossas vidas...

INICIA O PAGODE!

Todo pagode é ruim, mas mal tocado, mal cantado é de amargar a alma.

E fomos embora! Procurar aquela linda meia lua inteira que, já por estas horas, alta no céu escuro da fronteira, não estava mais tão grande!

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