quinta-feira, 26 de novembro de 2009

INQUIETAÇÃO...

Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
E agora, o que escrevo...
Um vazio criativo se assoma
E toma conta de tudo
Nada vem à mente...
Pelo menos nada que estaja a fim de sair
Ou que valha a pena sair para o teclado...
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Quatro, quarenta... Nunca é suficiente
Nunca será suficiente
Consumismo frívolo e desconcertante
Capital/capitalismo/capitalista
É chato chegar
A um objetivo num instante
Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Todos os caminhos são iguais
O que leva à glória ou à perdição
Há tantos caminhos tantas portas
Mas somente um tem coração
Caminhos... Como aquela estrada
Estendida sobre o verde campo
Levando ao nada... E a tudo
Levando ao mundo
Porque não saí por ela
Sem olhar para trás...
Sem olhar sequer ao lado...
Somente mirando em frente
Ao futuro... Fascinante, incerto...
O FUTURO, que é o próximo instante
DEPOIS DO AGORA...
Então o futuro é....
Agora e agora e agora e agora
Sempre vem... Sempre se constrói.
Aniquilando o instante passado.
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Belíssimo, por assim dizer

Vou viver!
Vou poder contar meus filhos
Caminhar nos trilhos
Isso é prá valer...
E então... A grande diferença...
Abissal diferença, Cabal diferença...
Absurda diferença!!!
Eu me sento, passivo, submisso
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Ainda que seja um canhão de luz na estrada
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...



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