Ultimamente tenho escutado muito rock latino americano, de primeiríssima qualidade...
Essa banda me foi presenteada, em parte, pelo meu amigo Pedrão.. . O presente foi o disco do AEROBLUS... Uma cacetada!!!! O crédito não é meu. Peguei o texto do whiplash.net.
"Como? O Papa morreu num acidente de moto???" perguntei ao meu amigo, espantado não tanto pela morte do Sumo Pontífice, algo que já era aguardado e de fato aconteceria alguns dias mais tarde, mas sim pela maneira inusitada como ocorrera, e também por ele ter me ligado para dar esta notícia, que com certeza inundaria a mídia em milésimos de segundo.
"Não, tou falando do Pappo, do Aeroblus", disse-me. Silenciei por um minuto, enquanto muita coisa desconexa passava pelo meu cérebro. Desliguei o telefone, dizendo que mais tarde ligaria para tratar de outros assuntos, e fui confirmar tal notícia na internet. Sim, infelizmente era verdade. Liguei para outro amigo que mandou de volta a mesma pergunta que fiz: "Hã? O Papa perdeu a vida em um acidente de moto???"
Por mais que vasculhe minha memória não me lembro do nome da loja, tampouco do solícito lojista que me apresentou ao Rock Argentino há muitos anos, sequer sei como fui parar lá, afinal estávamos numa ruelazinhado bairro de Pinheiros (SP), e que hoje eu sinceramente não sei dizer onde fica...
O que me recordo é que quando entrei os falantes estavam despejando um som muito interessante, que eu nunca tinha ouvido em minha vida, e cantado em castelhano. Perguntei o que era, e o cara da loja sacou um LP debaixo do balcão, que trazia um carro ou algo parecido na frente e três sujeitos na contracapa, creditado a uma banda chamada "Aeroblus".
Enquanto o disco ia sendo pirateado, ele me falava sobre zilhões de bandas argentinas das quais nunca ouvira falar, me fazendo sentir um roqueiro totalmente ignorante, desinformado. Como estava de passagem por Sampa, combinei que voltaria no futuro para conhecer outras coisas. Tinha no fundo uma esperança de conseguir comprar o disco, porém nunca mais voltei e perdi totalmente o contato.
A esta altura do campeonato já conhecera outros trabalhos não apenas da Argentina mas também do Uruguai, Chile, Peru, etc. Muita coisa interessante foi produzida na América Latina, aliás no quesito "hardão setentista" nossos vizinhos vencem de goleada, tendo a pátria de Maradona legado inúmeras bandas que em maior ou menos grau rezaram a cartilha do Blues/Rock pesado, tais como Manal, Cuero, Pappo's Blues, Color Humano, El Reloj, Montes, etc.
Porém, nenhuma delas me causou tanto impacto quanto o "Aeroblus", que considero um dos grandes trabalhos do hard setentista, aliás um dos discos mais pesados feitos nos 70's por qualquer banda em qualquer parte do mundo!
Pena que parte dos roqueiros brazucas sejam imbecilmente reticentes em relação à produção dos nossos vizinhos - houve uma ocasião em que tentei mostrar o Aeroblus para um amigo, que quando viu se tratar de uma banda da Argentina, disse que não queria nem ouvir, pois não gosta do pessoal de lá - idiotice cúbica...
Mas é fato consumado que antes da chegada da internet existia uma certa dificuldade - pelo menos aqui no sudeste - de se obter mais informações sobre nuestros hermanos, tanto que até Leopoldo Rey e Gilles Philipe, duas pessoas que entendiam do assunto, disseram no "Livro Negro do Rock" que o Pappo havia lançado "várias dezenas" de discos nos anos setenta, algo que, conforme veremos na biografia reduzidíssima que segue abaixo, não condiz com a verdade.
Mas somente na década seguinte é que ele formaria um dos maiores combos roqueiros da América Latina: o PAPPO'S BLUES, com o qual registra sete maravilhosos trabalhos entre 1971 e 1978, além de outros posteriores.
No ano seguinte é a vez do "Pappo's Blues - Volumen 3", trazendo Machi no baixo e Pomo na bateria. Pessoalmente, este é meu álbum preferido desta fase, pela seqüência "Stratocaser Boodie"/ "Pajaro Metyalico"/ "Sucio y Desprolijo" e "El Sur De La Ciudad", e talvez pelo fato de ser o primeiro registrado totalmente em estéreo (o disco de 1971 é mono, mas conta com excelentes composições, incluindo uma que considero uma verdadeira pérola: "A Donde Esta La Libertad").
Neste meio tempo, havia sido lançado na Argentina o "Volumen 6", trazendo material inédito registrado nas sessões do disco anterior, mas aparentemente a banda havia chego ao fim.
Já comentei em outras ocasiões, até aqui mesmo na coluna, que infelizmente nenhuma banda brazuca digna de ser chamada "hardão setentista" deixou registro sonoro gravado (pelo menos até onde sei), e que o mais próximo seria justamente o "Aeroblus", que conta com uma verdadeira lenda do nosso Rock: Rolando Castelo Júnior, que participou do primeiro disco do MADE IN BRAZIL e depois foi um dos fundadores do PATRULHA DO ESPAÇO, que está na ativa até hoje.
Conversei uma vez com ele sobre o Aeroblus, e o que ele me contou (até onde me lembro, muitas cervas já haviam sido degustadas...) é praticamente a mesma coisa que ele disse para meu caríssimo cumpadre Dárcio, em entrevista ao Mutantes On Line, e que reproduzo abaixo:
Mutantes On Line: Como surgiu a oportunidade de tocar com o Pappo e o Medina no Aeroblus? Você já estava radicado na Argentina na época ou foi chamado somente para este projeto?
Mutantes On Line: "O pessoal tem muita curiosidade em saber se há alguma gravação ao vivo dessa época - se é que vocês chegaram a fazer shows - e em caso positivo, se existe a possibilidade disto ser editado no futuro?"
O único trabalho do Aeroblus foi gravado em maio de 1977 em Buenos Aires, e o trio original chegou a se apresentar algumas vezes por lá, até que Júnior teve de voltar ao Brasil, e o projeto foi por água abaixo.
Pappo e Medina então se juntam ao baterista Darío Fernández e registram o "Volumen 7", tendo o guitarrista seguido para a Europa, onde ficaria até 1980, inclusive excursionando por seis meses com a banda de Peter Green!
Além disso, Pappo gravaria em 1985 um álbum com o PATRULHA DO ESPAÇO, o "Patrulha 85"; eis novamente o relato de Júnior, desta vez extraído do encarte do "Dossiê Vol.3": (...) "Quando o ano chegava aos seus meses finais e com a aproximação do Rock In Rio, saímos da letargia. Havia uma remotíssima possibilidade de participar do mega evento, apesar da banda estar no hangar, nossas bases e alguns contatos de maior nível nos instigavam a sair à luta, novamente pintava uma esperança. E dessa vez um contato feito com um empresário argentino assinalava também a presença no Rio de Janeiro de um velho conhecido e guitar-hero dos pampas, o Pappo, um mito na sua terra e com o qual eu havia tocado junto em 1977 na Argentina com o "Aeroblus", e que inclusive fez um show com a Patrulha em 1979 em São Caetano, São Paulo".
"Nesse meio tempo, Pappo tinha estourado mais uma vez na Argentina com uma banda chamada 'Riff'. Com o fim do 'Riff', Pappo veio ao Rio de Janeiro para tentar montar algo. Depois de um show no 'Circo Voador' com o Celso Blues Boy, uma máfia de editores argentinos que editavam no Brasil as revistas 'Roll' e 'Metal' tentavam armar para que ele tocasse com o Barão Vermelho no Rock In Rio. Eu sabia que tal empreitada era roubada e impossível. Assim que Pappo se ligou da patifaria, pintou a idéia de juntarmos as forças e de tentar algo com o Patrulha. A distância Rio/São Paulo era um obstáculo, mas depois de algumas viagens e acertos transferimos a operação para São Paulo, começamos a ensaiar e a compor rapidamente, agendamos com o Luiz (Calanca) da Baratos a gravação de novo material no estúdio Vice-Versa".
Ao contrário de Júnior e outros músicos brazucas, Pappo sempre foi respeitado e admirado na Argentina, basta uma simples conferida no El Sítio Del Pappo para se constatar que as novas gerações, senão todas mas ao menos boa parte, valorizam seus heróis.
Infelizmente, no dia 24 de fevereiro de 2005, este herói, que estava pilotando sua Harley numa estrada próxima à localidade de Luján, na Argentina, perdeu a vida após ser literalmente atropelado por um carro em alta velocidade.
Fica aqui então registrada a singela homenagem de um humilde fã brazuca, que vez por outra, tal qual rolou naquele longínquo dia naquela lojinha, coloca o Aeroblues prá rolar e ainda se emociona - e muito - toda vez que os falantes começam a despejar uma profusão de riffs, acompanhados de um baixo marcante e uma bateria furiosa, seguidos de um vocal cantado em castelhano...
(...)"Soy un guitarrista de blues, me gusta tocar rock ‘n’roll y vine a este mundo para eso".
Norberto "Pappo" Napolitano * 1950 + 2005
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